sábado, 20 de junho de 2009

A NECESSIDADE DE UM PENTECOSTE

O dr. John Stott, considerado um dos maiores exegetas bíblicos do século XX, disse que "antes de mandar a igreja para o mundo, Cristo mandou o Espírito para a igreja. A mesma ordem precisa ser observada hoje". Não há missão sem capacitação. Não há pregação sem poder. Não há avivamento sem derramamento do Espírito.
Leonard Havenhill, em seu livro Por que Tarda o Pleno Avivamento?, conta a experiência de um pastor que pregou uma tabuleta na porta da sua igreja: "Esta igreja passará por um avivamento ou por um sepultamento". Visitei na Europa, nos Estados Unidos e no Canadá muitas igrejas históricas que tiveram um passado cheio de vigor e hoje são consideradas igrejas mortas. Têm templo, têm orçamento, têm estrutura, mas não têm vida.
Mas é possível a igreja experimentar hoje um novo derramamento do Espírito Santo? Precisamos, de início, entender que o Pentecoste no seu sentido pleno é irrepetível. O Espírito Santo foi derramado para permanecer para sempre com a igreja. Ele é o outro Consolador que estará para sempre conosco. Agora, todos os outros avivamentos decorrem daquele que aconteceu em Jerusalém nos primeiros tempos. Nesse sentido, não há mais Pentecoste. Todavia, a promessa de novos derramamentos do Espírito para despertar a igreja é uma promessa viva à qual devemos agarrar-nos. É nesse sentido que vamos usar o termo Pentecoste. O apóstolo Pedro disse naquele dia memorável: "... e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor nosso Deus chamar" (At 2.38-39).
Ao longo da história, Deus visitou o seu povo, irrompendo com grande poder e trazendo à igreja tempos de refrigério, através do derramamento do seu Espírito. Foi assim entre os valdenses, na França, no século XII. Foi assim na Reforma do século XVI, quando o Espírito de Deus soprou com grande poder na Europa, usando homens como Lutero, Zwinglio, Knox e Calvino. Deus voltou a visitar a igreja com grande poder no século XVII, levantando sobretudo na Inglaterra os puritanos, uma das gerações mais santas e cultas da história da igreja. No século XVIII, as janelas dos céus se abriram em copioso derramamento do Espírito na Inglaterra, no País de Gales e na Nova Inglaterra. No século XIX, Deus enviou a chuva torrencial do seu Espírito em grandes avivamentos nos Estados Unidos, na Escócia, na Inglaterra e na Irlanda do Norte. No século XX, Deus tem feito maravilhas, desde o grande avivamento do País de Gales, em 1904, com Evan Roberts; o grande avivamento nas Ilhas Novas Hébridas, em 1946, com Duncan Campbell; o avivamento entre os zulus, na África do Sul, em 1966, com Erlo Stegen; e o grande despertamento na Coréia do Sul, desde 1907, quando o vento do Espírito começou a soprar com grande poder, levando aquela igreja a um colossal crescimento até os dias de hoje.
Temos base, portanto, para buscar e esperar um Pentecoste, ou seja, um derramamento do Espírito nestes dias.

Por que o pentecoste é necessário hoje?

1. Por causa do baixo nível espiritual do povo de Deus
A igreja via de regra tem crescido para os lados, mas não para cima nem em profundidade. Ela tem sido muitas vezes superficial, rasa, imatura e mundana. Tem extensão, mas não profundidade. Tem números, mas não vida. É grande, mas não causa impacto. Ela cresce, mas não amadurece. Tem quantidade, mas não qualidade. É como a igreja de Sardes: tem nome de que vive, mas está morta (Ap 3.1). Há um vácuo, um hiato, um abismo entre o que os crentes professam e o que vivem, entre o que falam e o que fazem. A integridade e a santidade não têm sido mais o apanágio da vida de muitos crentes. Eles estão caindo nos mesmos pecados vis que condenam nos ímpios.
Não raro, a igreja é mais comentada hoje por seus escândalos do que pelo impacto de seu inconformismo com o mundo. A maioria dos cristãos adota um cristianismo desfigurado, no qual a verdade é ultrajada, a Palavra é relativizada e os valores absolutos de Deus são pisoteados. O Evangelho que muitos pregam hoje é um sincretismo semi-pagão. Estamos assistindo à comercialização indiscriminada e descarada do sagrado. Muitos pregadores abraçaram um semi-Evangelho, um Evangelho sem cruz, sem verdade, sem absolutos. Esses pregoeiros não se importam com a verdade, estão mais interessados no lucro. Não buscam o que é certo, mas o que dá certo. Não buscam o que é ético, mas o que funciona. Essa atitude inconseqüente de pregar um evangelho misturado com heresias, para satisfazer a ganância insaciável do lucro fácil, tem gerado crentes fracos, doentes e superficiais, e causado mais escândalo que impacto positivo na sociedade. A igreja perdeu sua vez e sua voz. Ela se impõe não pela força espiritual, mas pelo seu potencial de barganha. Ela perdeu a autoridade para falar em nome de Deus, pois o evangelho que ela prega é outro evangelho. Estamos vivendo o doloroso período de uma igreja apóstata. Vibrante, sim; mas, sem a vida de Deus. Rica, sim, diante dos homens; mas, diante de Deus, pobre, cega e nua.
Quando a sã teologia é abandonada, a conduta entra em colapso. A teologia é mãe da ética. A teologia determina a ética. O homem é resultado da sua fé. Como ele crê no seu coração, assim ele é. Antes da vida vem a doutrina. A doutrina determina a qualidade de vida. Não há santidade fora da verdade. Não há cristianismo autêntico se na sua base não está a Palavra de Deus. Uma igreja apóstata não pode gerar crentes genuínos. Uma igreja em crise espiritual gera crentes trôpegos e doentes.
Estamos vendo, por isso, que a cada dia o mundo está entrando mais para dentro da igreja. A igreja tem mais assimilado que influenciado o mundo. Ela se conforma mais com o mundo do que produz nele impacto. A glória de Deus não está mais sobre a tenda da igreja. A igreja se contorce com as dores de parto para dar à luz a seu filho
Icabode. O brilho do rosto de Deus não mais tem resplandecido na vida da igreja, que perdeu a sede de Deus para buscar avidamente as bênçãos de Deus. Deus se tornou para ela apenas um abençoador, e não o Senhor. O homem é o centro, e não Deus. O que se busca é que a vontade do homem se faça no céu, e não que a vontade de Deus se estabeleça na terra. O homem hoje busca não a face de Deus, mas o lucro. Ele vai à igreja não para adorar, para oferecer algo a Deus, mas para buscar uma bênção. A sua lei é a da sanguessuga: me dá, me dá. O homem invoca a Deus não porque tem sede de Deus, mas por aquilo que pode dele receber. Ele entrega o dízimo não porque tem prazer na fidelidade, mas pelo retorno que isso pode representar. O homem assim serve não a Deus, mas a Mamon.
Há também aqueles que, à semelhança dos crentes de Efeso, são ortodoxos, mas perderam o calor espiritual, abandonaram o primeiro amor. Guardam doutrinas certas na cabeça, mas são gelados na vida espiritual. São ortodoxos de cabeça e hereges de conduta. São zelosos em observar os rituais, mas condescendentes ao pecado. São observadores externos dos preceitos de Deus, mas cheios de podridão por dentro. Vão à igreja, mas não entram na presença de Deus. Cantam hinos, mas não adoram a Deus. Fazem longas orações, mas desconhecem a glória de entrar no Santo dos Santos da intimidade com o Senhor. Jejuam, mas não se humilham na presença do Todo-poderoso. Não têm temor de Deus no coração. Acostumaram-se com o sagrado, já não sentem mais deleite na Palavra nem alegria na vida de oração, perderam a visão da obra de Deus, por isso já não têm mais paixão pelas almas. Vivem um cristianismo árido, estéril, apenas de fachada e aparência.
A conseqüência natural dessa fé trôpega é uma vida mundana, imiscuída com o pecado, mancomunada com o que é vil. Os crentes de hoje, não raro, são pouco diferentes das pessoas do mundo: o namoro é igualmente licencioso e lascivo, os negócios são igualmente enrolados. Falta integridade nos compromissos e verdade nas palavras. Há crentes que são cativos de vícios degradantes e, para manter as aparências, colocam máscaras e cometem assim duplo erro: o de pecar e o de tentar esconder o pecado. A qualidade da vida moral do povo evangélico hoje está muito aquém daquilo que Deus estabelece em sua Palavra. Não adianta racionalizar, criando motivos para justificar o pecado. Deus pesa os corações. Ele sonda os filhos dos homens. Diante dele a luz e as trevas são a mesma coisa. Ninguém escapa do escrutínio de Deus. Seus olhos oniscientes devassam todas as máscaras que usamos. Diante de Deus não adianta disfarçar. Ele requer a verdade no íntimo. Ele não se satisfaz com a aparência. Ele não se contenta com folhas; Ele busca os frutos.
Antes de falar do derramamento do espírito, o profeta Joel convocou a nação de Israel a se voltar para Deus. Antes do Pentecoste, o pecado precisa ser tratado. Antes de os céus se abrirem, o povo precisa acertar sua vida com Deus. Antes do derramamento do Espírito, o caminho para Deus precisa ser preparado. E Joel (2.12-16, 28) diz que essa volta precisa ser: a) profunda - ou seja, de todo o coração. Não adianta fingir. Não adianta tocar trombeta. Deus não se impressiona com a majestade dos nossos gestos e com a eloqüência das nossas palavras. Ele não aceita promessas vazias, votos tolos, compromissos pela metade; b) com quebrantamento - ou seja, com lágrimas e pranto. Deus não despreza o coração quebrantado. As lágrimas de arrependimento não são esquecidas por Deus. Os que choram por seus pecados são bem-aventurados. É impossível ser cheio do Espírito sem antes esvaziar-se de todo o entulho que entope a nossa vida. Essa faxina é dolorosa, mas precisa ser feita, ainda que com lágrimas; c) com diligência - ou seja, com jejum. Precisamos jejuar para que Deus dobre o nosso coração e o torne sensível. Precisamos jejuar para que Deus nos dê percepção da malignidade do nosso pecado e da pureza da santidade divina. Precisamos jejuar para que todas as desculpas que arranjamos para não nos voltarmos a Deus caiam por terra; d) com sinceridade - ou seja, rasgando o nosso coração. No passado, as pessoas tinham o hábito de rasgar as vestes na hora do desespero. Deus, contudo, não se contenta com atos exteriores. Ele não se satisfaz com teatralização. Diante dele não adianta empostar a voz, gritar, gesticular, pois esses gestos não o impressionam. Ele quer um coração rasgado, sincero, autêntico, determinado a voltar-se para ele. Quando a trombeta soou, o povo foi convocado a voltar-se para Deus, do sacerdote à criança de peito, e houve restauração e perdão. Como resultado, veio a gloriosa promessa: "... e acontecerá depois que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne" (Jl 2.28). Veja que o derramamento do Espírito vem depois e não antes do acerto de vida com Deus. Buscar avivamento sem antes tratar do pecado é leviandade, pois é querer que Deus compactue com o erro. É preciso preparar o caminho para que Deus se manifeste.
Hoje, tristemente, precisamos admitir que a igreja está doente e fraca por causa do pecado. Falta vida aos cultos. Onde não há sinceridade, não há adoração digna de Deus. Onde não há santidade, não há comunhão com Deus. Deus estava cansado do culto do povo de Judá, porque as mãos do povo estavam cheias de sangue. Eles multiplicavam suas orações na mesma medida que aumentavam suas transgressões (Is 1.15). O profeta Amos chegou a dizer que Deus estava cansado de ouvir as músicas religiosas do seu povo e não suportava mais o tanger de seus instrumentos (Am 5.23), porque o povo tinha culto, mas não tinha vida. O profeta Malaquias vai mais longe ao falar em nome de Deus, recomendando que se fechasse a porta da igreja, a fim de que as pessoas não acendessem o fogo no altar inutilmente (Ml 1.10). Isso porque elas estavam desonrando a Deus e colocando no seu altar animais doentes, cegos, dilacerados, ou seja, o resto, a sobra, não as primícias. Há hoje muitos cultos frios, cadavéricos, sem pulsação, sem o latejar da vida. Há outros cultos que, caindo para o extremo oposto, são uma apresentação teatral, um show, no qual as pessoas prestam um culto do homem para o homem. O que conta é o desempenho e o poder de manipulação de massa do dirigente. Há ocasiões em que o culto se torna um balcão de negócios onde se comercializa o sagrado, onde se loteia o céu e se vende a graça de Deus por dinheiro, onde se fala em nome de Deus e se fazem promessas em nome de Deus que ele nunca fez em sua Palavra. Sim, tudo isso mostra o baixo nível espiritual do povo de Deus e impõe para nós a necessidade imperativa de um Pentecoste!

2. Porque a igreja está trancada dentro de quatro paredes
No Evangelho segundo João 20.19,21,22 encontramos os discípulos reunidos com as portas trancadas, com medo dos judeus. Eles estavam acuados, acovardados, paralisados e sem nenhuma ousadia para sair pelas ruas. Haviam perdido a coragem para testemunhar.
Não queriam assumir os riscos do discipulado. Eles não tiveram coragem de assumir que eram de Jesus. Intimidaram-se diante das pressões e da perseguição iminente. Arriaram as armas; enfiaram-se na caverna; enjaularam-se no cenáculo. Eles se encolheram sob o manto do medo.
Esse é um retrato da igreja hoje. Muitas igrejas têm conteúdo, mas lhes falta ousadia. São ortodoxas, mas não têm paixão pelas almas. Têm conhecimento, mas não têm ardor evangelístico. Têm programa e organização, mas não saem das quatro paredes. Outras igrejas têm conteúdo, boa teologia e excelente música, mas toda a sua atividade é voltada para dentro. Elas não transpiram, não reverberam sua influência para o mundo. São verdadeiros guetos. São sal no saleiro. Nada fazem e pouca ou nenhuma influência exercem na sociedade em que estão inseridas.
Noventa por cento das atividades da maioria das igrejas destinam-se à própria igreja. São igrejas enroscadas e sufocadas pelo próprio cordão umbilical; igrejas narcisistas, igrejas com a síndrome do mar Morto, que só recebem, só engordam; igrejas que alumiam a si mesmas e sonegam a sua luz para o mundo, deixando-o em densas trevas. E, ao contrário da mulher da parábola da moeda perdida, essas igrejas, em vez de buscar a moeda que se perdeu, passam o tempo todo polindo as moedas que têm nas mãos. Realizam conferências, congressos, encontros, palestras e seminários apenas para polir moedas. Os crentes dessas igrejas reciclam-se em todos os congressos, participam de conferências missionárias a mil quilômetros de distância. São capazes de sair de casa mil vezes para ir ao templo, mas não têm coragem de atravessar a rua e falar de Jesus para o vizinho. São igrejas tímidas para investir na salvação dos perdidos. Pescam sempre em águas rasas e jamais lançam as redes em alto-mar. Os poucos peixes que pegam tornam-se peixes combatentes que exaurem suas forças guerreando com outros peixes, numa luta titânica de aquário.
Quando olhamos para o texto de João 20.19-22, descobrimos quatro razões pelas quais a igreja estava trancada dentro de quatro paredes: 1. Medo - Alguns crentes têm medo das críticas, medo do preconceito, medo da perseguição, medo de ser zombados, medo de assumir que são de Jesus. Por isso, acovardam-se como Pedro. Mesmo assim, são crentes cheios de uma autoconfiança arrogante. Têm alto conceito de si mesmos. Julgam os outros e supervalorizam a si mesmos. Como Pedro, começam a seguir a Jesus de longe. Não têm coragem de abandonar a fé nem disposição de ir de vez para o mundo, mas também não têm fibra para andar perto de Jesus. Andam esgueirando-se na penumbra. Mergulham em caminhos cheios de escuridão. São discípulos covardes. Como Pedro, também se unem a companhias que são um tropeço para a fé. Começam a se juntar a gente que escarnece e zomba de Jesus. Finalmente, como Pedro, negam a Jesus. Juram que não o conhecem e até praguejam, falando impropérios e negando todo o seu envolvimento com o Senhor da vida. Sim, há muitos que, por medo, preferiram ficar enquartelados dentro do templo a vida inteira, no conforto do ninho, vivendo um cristianismo de estufa, apenas tomando mamadeira e engordando, fazendo da igreja um berçário e orfanato, não um exército equipado para sair pelo mundo anunciando a salvação em Cristo. 2. Ausência da centralidade de Jesus na vida - Eles estavam com medo porque Jesus estava ausente naquela reunião. Como Jesus não estava presente, as portas estavam trancadas. Aquilo era uma antítese de todo o ministério terreno de Jesus. Jesus nunca ficou encastelado dentro do templo, empoleirado numa cátedra. Seu ministério foi itinerante, foi na rua, nas cidades, nas casas, nas estradas. Jesus ia ao encontro das multidões. Onde estava o pecador, aí estava o campo missionário de Jesus. Hoje queremos inverter as coisas. Queremos apenas que os pecadores venham à igreja, mas a igreja não quer ir ao mundo, onde os pecadores estão. A igreja não quer sair do ninho. Não quer o desconforto de descer aos vales, onde as pessoas padecem os tormentos de uma vida sem Deus e sem esperança. Quando Jesus, porém, se faz presente na igreja, ela se torna ousada. Ela sai das quatro paredes. Deixa de ser auto-satisfeita como a igreja de Laodicéia, que se considerava abastada e rica, mas era miserável, porque Jesus não estava dentro dela. 3. Ausência de comunhão - Aquele grupo amontoado no cenáculo estava em grande conflito. Alguns talvez nem ousassem levantar os olhos por causa da vergonha de terem fugido na hora em que Jesus foi preso no Getsêmani. Talvez estivessem ruminando a erva amarga de suas fraquezas e mazelas. Talvez estivessem culpando a si mesmos e uns aos outros pelo fracasso de fugir escandalizados com Cristo na hora de seu suplício horrendo. Uma igreja sem comunhão não tem vez nem voz. Não tem autoridade para pregar. Não tem credibilidade para anunciar boas novas. Uma igreja sem comunhão está doente, precisa de cura, por isso está inapta para sair das quatro paredes. 4. Ausência do sopro do Espírito - Aqueles discípulos estavam sem paz, sem alegria, sem ousadia, sem unção. Estavam secos, murchos, vazios. Estavam amontoados, mas não tinham comunhão. Estavam congregados, mas Jesus estava ausente. Estavam juntos, mas com medo. Eram uma comunidade cristã, mas sem o sopro do Espírito, por isso estavam trancados, com medo dos judeus. Quando perdemos o sopro do Espírito, tornamo-nos crentes medrosos. Quando a igreja deixa de ser irrigada pelo óleo do Espírito, ela mingua, murcha, se encolhe. Quando falta óleo na engrenagem, a máquina bate pino. Quando a igreja perde a plenitude do Espírito Santo, intimida-se e fecha-se entre quatro paredes. Não há avivamento intramuros. Avivamento que não leva a igreja a transpirar, a sair do seu comodismo, não é avivamento bíblico. Avivamento que não empurra a igreja para fora do ninho é apenas um movimento superficial de conseqüências miúdas. A Bíblia fala que, quando Paulo chegou a Tessalônica, a mensagem do Evangelho vazou pelos poros da igreja e alcançou todo o mundo. Quando Paulo chegou a Éfeso, a partir dali, o Evangelho irradiou-se por toda a Ásia Menor. Sempre que Deus visitou o seu povo em poderosos derramamentos do Espírito, a igreja avançou para conquistar os perdidos lá fora, no mundo, onde eles estavam. Eis por que precisamos de um Pentecoste nestes dias, para tirar a igreja detrás dos muros de concreto e levá-la para as ruas, para as praças, para o meio da multidão, a fim de ser sal, luz e portadora de boas novas de salvação.

3. Porque fogo estranho tem substituído o fogo do Espírito
Há hoje muita heresia no mercado da fé. As prateleiras religiosas estão abarrotadas de muitos produtos belamente embalados para atrair os gostos variados da freguesia. Há muita religiosidade que, embora pareça atraente e convincente, não passa de fogo estranho no altar de Deus. O fogo estranho é aquele que não vem do céu, é fabricado pelo homem. Não vem como resposta e favor de Deus, mas é produzido artificialmente pelo homem para impressionar, como se tivesse o selo divino. O fogo estranho é aquele criado fora dos princípios das Escrituras. Ele é muito parecido com o fogo verdadeiro. Ele impressiona as pessoas. Ele atrai muitos curiosos.
Nunca na história houve uma explosão tão grande de fogo estranho como no tempo em que vivemos. A humanidade está ávida por novidades. Tudo o que oferece resposta imediata à sua necessidade, o homem está buscando. Caímos na malha de um pragmatismo demoníaco. As pessoas hoje não estão interessadas na verdade, mas naquilo que funciona. Elas não buscam o que é certo, mas o que dá certo. Não se interessam pela integridade, mas por resultados. Não buscam caráter, mas carisma. Não querem santidade, mas sinais. Não são atraídas pela cruz, mas por milagres. Não buscam negar-se a si mesmas e cada dia tomar a cruz e seguir Jesus, mas correm atrás de um falso anestésico que lhes acalme a dor do agora. Não buscam com agonia de alma o arrependimento, mas o conforto. Não se interessam em mudar de vida, estão atrás de lucro. Não buscam a cidade cujo arquiteto e fundador é Deus, querem impérios neste mundo mesmo. Não se importam com o fogo do inferno, desde que consigam apagar as chamas do sofrimento que lhes incomoda agora.
Estamos vendo, com tristeza e pesar, muitas pessoas dando ao povo um caldo venenoso em vez do verdadeiro cereal do céu. Há morte na panela. Há fogo estranho no altar. Muitos são atraídos por toda a sorte de novidades que aparecem em nome de fogo divino. Alguns líderes religiosos se tornaram verdadeiros mágicos na fabricação de fogo fátuo. Conseguem fazer verdadeiros malabarismos pirotécnicos para impressionar os incautos, guiando as pessoas cegas pelas veredas escorregadias de uma subjetividade enganadora, sem o referencial seguro das Escrituras. Outros líderes negociam milagres, voltando à prática medieval das indulgências, em que a salvação se comprava com dinheiro. Há líderes que se especializam em apelos sentimentalistas, fazendo promessas enganadoras ao povo em nome de Deus, para arrancar polpudas somas de dinheiro, para engordar os cofres famintos de uma casta inescrupulosa. Existem muitos mercenários travestidos de pastores, empoleirados no púlpito, com a Bíblia aberta, blasonando uma verborragia sedutora, pregando outro evangelho, fazendo milagres, expulsando demônios, profetizando, mas ao mesmo tempo vivendo na iniqüidade, dominados por uma ganância insaciável, acendendo fogo estranho no altar. Há igrejas chamadas evangélicas que estão criando um verdadeiro sincretismo religioso, trazendo à tona um evangelho mágico, imiscuído com práticas pagas, encorajando os fiéis a colocar um copo de água sobre o rádio, a comprar rosas ungidas, lenços santificados, óleo de Israel e água benta do Jordão. Tudo isso não passa de outro evangelho, um anti-Evangelho, fogo estranho no altar.
Mas o que devemos fazer diante desta triste constatação? Apenas lamentar? Apenas lançar torpedos de condenação a essas práticas condenáveis? Apenas alertar o povo sobre os perigos dos falsos mestres? Muito mais que isso, precisamos buscar o fogo verdadeiro. Fogo combate fogo. A melhor maneira de cercar o fogo é com fogo. Só o fogo autêntico pode apagar o fogo falso. Só o fogo do céu pode fazer morrer as chamas do fogo estranho. Deus sempre se manifestou através do fogo. Quando Deus apareceu a Moisés no Sinai, revelou-se através do fogo. No Monte Carmelo, Deus destronou a credibilidade do abominável Baal, mandando fogo do céu. Quando Salomão consagrou o templo, o fogo de Deus invadiu o santuário. No Pentecoste, o Espírito desceu sobre os discípulos em chamas como de fogo. Deus é fogo consumidor. O trono de Deus é fogo. A Palavra de Deus é fogo. Ele faz dos seus ministros labaredas de fogo. Jesus batiza com fogo. Sempre foi desejo de Jesus lançar fogo sobre a terra: "Eu vim para lançar fogo sobre a terra e bem quisera que já estivesse a arder" (Lc 12.49).
Quando a igreja perde o fogo do Espírito, o mundo perece no fogo do inferno. O Espírito Santo é poder. O Espírito Santo traz poder. Poder é dinamis. E dinamite só explode com fogo. Quando a dinamite explode, até pedra se quebra. O fogo de Deus lança luz sobre as trevas. O fogo de Deus aquece os que estão frios. O fogo de Deus queima o entulho do pecado e purifica aqueles que armazenam lixo no porão da memória e no sacrário da alma. O fogo de Deus não pode ser contido; ele alastra, salta obstáculos, desconhece dificuldades. O fogo de Deus não pode deixar de ser percebido. Onde ele está, as pessoas notam. O fogo de Deus atrai. Onde suas labaredas se levantam, é para lá que as pessoas correm. O fogo de Deus não pode ser fabricado nem produzido artificialmente. E resultado de uma vida no altar, de uma busca sincera, de uma consagração verdadeira, de uma entrega sem reservas de almas que suspiram pelo Altíssimo. Precisamos de um Pentecoste que apague o fogo estranho e acenda verdadeiras labaredas do Espírito nos corações. Oh, o grande soluço de minha alma, o grande grito do meu coração, é que eu possa ser um graveto seco a pegar fogo, pois estou certo de que, se o fogo pegar na lenha seca, até a lenha verde começará a arder!

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